segunda-feira, 1 de setembro de 2014

ARTIGO: "Educação à distância, para os pobres!", por Lucineide Barros

EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA, PARA OS POBRES!

Mais essa da UESPI: Segunda feira, 25/08, com toda pompa, foram lançados dois Editais com cerca de 8 mil vagas em cursos de graduação e pós-graduação à Distância. Inclusive uma parte dessas vagas está sendo ofertada em unidades da UESPI onde já existe o mesmo curso em regime presencial. Provavelmente a Universidade já tem mais alunos em cursos à Distância do que em presenciais. Ou seja, estamos diante de um cenário claro: a transformação rápida da UESPI em uma Universidade à Distância (inclusive dos grandes problemas do Estado), sob aplausos da administração superior e dos políticos, que são unânimes em afirmar que trata-se de uma resposta à necessidade de desenvolvimento do Estado, com ampliação de oportunidades para ingresso dos “pobres” na Universidade. 

É certo que a Educação à Distância (EaD) é uma realidade importante nos processos educacionais, especialmente se as tecnologias forem tomadas como mediação a potencializar o ensino e a aprendizagem; mas não como panacéia e tampouco como base da política educacional, esta que deve está alicerçada em valores, relações e processos. 

Porém, os governos neoliberais especialistas em transformar tudo em mercadoria, de preferência barata, decidiram que a EaD é a solução que combina acesso e crescimento instrumentalizado. Assim, na repartição dos níqueis e em busca da eficiência de fazer “mais com menos” se utilizam da Educação à Distância como ferramenta para (con)formar em larga escala e produzir vultosos índices de crescimento, os quais são comunicados como “de desenvolvimento” e legitimados em avaliação estandardizada a alheias a dificuldades estruturais e localizadas.

Esses governos aliados a gestores educacionais assumem a condição de novos feitores de escravos! Estão formando mão-de-obra barata e desqualificada para ser explorada nos empreendimentos privados, inclusive educacionais, que usufruem de recursos faltantes à educação pública. Asseguram a “inclusão” dos POBRES como “beneficiários” - da pobreza! Ou seja: para os estudantes pobres do Piauí, UMA UNIVERSIDADE POBRE: sem mediação pedagógica, e descomprometida com estratégias de superação dos problemas de uma educação básica precária, cujos egressos, em maioria, chegam aos cursos superiores semi-analfabetos e na EaD devem mendigar pontos de internet, que ainda é luxo no interior do Estado, para fazerem suas lições, geralmente de baixa complexidade, baseadas em conteúdos pobres, requentados em apostilas, denominadas de livros, cuja elaboração, juntamente com o serviço de tutoria, vem servindo muito bem para assegurar a melhoria da renda de professores que, em massa, estão envolvidos em ações desses e de outros cursos especiais, de modo acrítico, e deseducativo. Mas não é tudo: Como “privilegiados” devem ser eternamente gratos aos seus benfeitores. É esse profissional que queremos? É esse o processo educacional que nos fará avançar?

Curioso é que a EaD apresentada como a redenção para os pobres não serve para formar os filhos do Reitor, pró-reitores, prefeitos, deputados e outros políticos “benfeitores”. E eu digo: não serve mesmo! Devemos nos insurgir contra esse modelo de universidade pobre para os pobres. Todas as pessoas, sem distinção, têm direito a uma formação decente, onde quer que esteja e isso não é objetivo inatingível, basta ver o volume de dinheiro investido na EaD. Enquanto isso, mais uma vez, a UESPI oferta disciplinas em cursos presenciais, para as quais não há professores....


(Lucineide Barros - Professora da UESPI associada à ADCESP)




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