quarta-feira, 20 de novembro de 2013

20 de novembro: Não há Consciência Negra sem Educação emancipadora

Comemora-se neste 20 de novembro o Dia da Consciência Negra. Mesmo não tendo sido digna de manchete em nenhuma jornal da cidade (vide a ausência de conteúdo nesse sentido hoje), é uma data que requer, além de bastante reflexão, também muita formação, principalmente à categoria docente. Muitos ainda são os casos de racismo cometidos no ambiente universitário por docentes, e para a Adcesp isso é inadmissível.

Não apenas hoje, mas especialmente nessa data, é dia de colocar em evidência que a história e a cultura negra devem ser reescritas e socializadas, seja no ambiente de ensino superior, seja principalmente na educação básica, pois é nesse momento em que o preconceito e a falta de informação , que se desenvolve pela juventude e idade adulta, são gerados.

Dessa forma, após dez anos da lei 10.639, que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares da educação, temos infelizmente pouco a comemorar. Ainda é preciso bastante qualificação de professores e professoras para que esse conteúdo não seja folclorizado nas salas de aula como foi por muito tempo, assim como material didático que não eurocentrize a história de nosso povo que é majoritariamente (51%) negro.

O Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe e a CSP-Conlutas - Central Sindical a qual este sindicato é filiado - convidam a todas as entidades do movimento sindical e social a se integrarem à Marcha Nacional da Periferia, que acontecerá em diversos estados brasileiros.  

“Pelos Amarildos, da Copa eu Abro Mão”


Com tema “Pelos Amarildos, da Copa eu Abro Mão” a marcha de 2013 contrapõe-se a violência e criminalização impetrada pela polícia nas periferias. Isso quando há um alto investimento dos governos destinados para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016.

A Marcha exigirá respostas para as perguntas “Cadê o Amarildo?”, “Por que o senhor atirou em mim?” em alusão aos casos recentes de assassinatos de inocentes envolvendo policiais.





O Quilombo Raça e Classe estará nas ruas marchando contra o extermínio da população negra; a criminalização do povo da periferia; as remoções causadas pelos “megaeventos” como a Copa de 2014 e Olimpíadas em 2016; a perseguição às lideranças comunitárias, quilombolas, camponesas, ambientalistas e indígenas; o aumento da repressão aos que lutam; a precariedade dos serviços públicos básicos como educação, saúde, moradia e mobilidade social. Em contrapartida a todo esse quadro de calamidade, os governos têm gastos exorbitantes com a Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 e multiplicam os investimentos nessas obras que passaram de 1, 5 bil hões de reais para fabulosos 45 bilhões de reais.


Desigualdades entre negros e não negros no mercado de trabalho


O mercado de trabalho é ocupado 48,2% por negros. Contudo, independente de sua escolaridade, do setor em que atuam, os negros ganham 36,11% menos do que os não negros. Ou seja, a hora de trabalho dos negros limita-se a 63,9% do ganho-hora dos não negros. Esse foi o resultado da pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconÿmicos (Dieese) no biênio de 2011-212, divulgada nessa quarta-feira (13). O estudo foi realizado nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Distrito Federal, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.

Outro dado ressaltado pela pesquisa é que quanto maior o nível de escolaridade e cargo que o negro ocupa maior a desigualdade de salário em relação aos não negros. Na Indústria de Transformação, a diferença de rendimentos por hora trabalhada entre negros que possuem nível fundamental incompleto em comparação com não negros foi de 18,4%. 


Essa diferença é maior para os negros que possuem ensino superior completo e chega a 40,1%. O mesmo ocorre no setor de comércio cuja diferença de rendimento é de 19,7% para aqueles que possuem ensino fundamental incompleto e de 39,1% para aqueles que possuem superior completo. Na construção, setor onde predomina a força de trabalho do negro, a diferença de remuneração variou de 15,6% para os que possuíam ensino fundamental incompleto e 24,4% para os que possuíam ensino superior completo.

Ainda de acordo com a pesquisa, que pode ser lida na íntegra no site do Dieese, os negros também são maioria nos cargos considerados de menor prestigio e valorização. Setores que exigem desgaste físico, repetitivo e oferecem pouca margem para decisões e para criatividade.

Quando as ocupações são hierarquizadas e diferenciadas de acordo com a escala produtiva, há discrepâncias entre os postos alcançados por negros e não negros em suas carreiras. Segundo a pesquisa, em 2011-2012 grande parte de pretos e pardos ocupou postos nas atividades de execução e uma pífia parcela ocupava postos de direção e planejamento. Em São Paulo, por exemplo, 61,1% dos negros realizam atividades executivas e 5,7% ocupavam cargos de gestão, o que representa, respectivamente, 52,1% e 18,1% de não negros nessas inserções. É rara também a presença de trabalhadores negros em postos de direção e planejamento.

Salário Igual, trabalho igual


A pesquisa constata o abismo entre negros e não negros no mercado de trabalho. Por isso, na semana da consciência negra, vamos também levantar nossas bandeiras por salário igual trabalho igual.


Consciênciua Negra, Feminista e Classista



A morte de Amarildo, morador da favela da Rocinha no Rio e do jovem Douglas, na zona Norte de São Paulo escancaram uma triste realidade: há um verdadeiro genocídio do povo negro nas periferias brasileiras. O que está por trás disso é o racismo, base para enorme diferença salarial entre negros e brancos e para miséria a que estão submetidas as mulheres negras, que chegam a ganhar até 72% a menos do que um homem branco.

São as mulheres negras as maiores vítimas da violência doméstica, sexual e do assédio moral e sexual nos locais de trabalho. O tráfico sexual também tem como alvo mulheres jovens e negras. Quando se pensa em símbolos brasileiros historicamente publicizados na grande mídia, logo nos vem à mente a famosa 'mulata brasileira'. Durante a Copa, o que se estima é que a mulher negra é quem mais sofrerá com a exploração sexual para suprir um fetiche estrangeiro.

São também as mulheres negras que ocupam as enormes filas dos hospitais públicos e quem mais frequenta a lista de espera de creches. O 20 de novembro trás a memória de Zumbi, grande símbolo de resistência contra a escravidão, a exploração e a opressão. A melhor forma de continuar sua luta é enfrentar o abismo social entre negros e brancos, que submete mulheres negras às piores condições de vida. Queremos lembrar Zumbi, lembrando também de Dandara, mulher guerreira, inspiração para a organização classista das mulheres trabalhadoras, que lutou lado a lado de seu companheiro mas que não ganhou a memória dos brasileiros.

Dessa forma, entendemos que nossa luta contra o racismo deve ser todos os dias, nas ruas, nas praças, nas universidades e no mercado de trabalho. É preciso que a população negra de nosso país adentre cada vez mais as universidades com consciência crítica e emancipadora, produzindo conteúdo para melhorar e dignificar a vida preta e reescrevendo a história de sua classe, por muitos anos esquecida e criminosamente discriminada.

* Com informações do ANDES

Nenhum comentário:

Postar um comentário